A construção da Saúde Pública em São Paulo no final do século XIX e início do século XX

Dra. Mariana de Carvalho Dolci
Faculdade de Saúde Pública-USP

Quando falamos do Instituto Adolfo Lutz, do Hospital Emílio Ribas ou do Instituto Butantan, as pessoas pensam que essas instituições já nasceram grandes e poderosas. Grande erro! A construção da saúde pública em São Paulo se deu de forma lenta, pelas mãos de poucos e, muitas vezes, desconhecidos cientistas. Vamos contar um pouco dessa turbulenta e apaixonante trajetória…

Os museus e a divulgação científica

Pedro Antonio Federsoni Júnior
Instituto Adolfo Lutz

Na História, o Museu Lar das Musas, mostrava a beleza e a fluidez virginal das Artes. Num passado bem distante, pinturas rupestres divulgaram (e mostram hoje) culturas, costumes, hábitos de comunidades. As eras foram se avolumando em informações. Foi necessário construírem Gabinetes de Curiosidades, em castelos, apresentando de tudo um pouco; aventuras, história natural, saques, demonstrações de poder. Ciência e Religião sempre se espinharam. Foi primordial, que ambas se explicassem. Que divulgassem tudo o que já sabiam e sabem. Assim, hoje, a Ciência se apoderou de seu lugar, entre arte, religião, cultura, educação e costumes. Divulgação e explicação de áreas Científicas avançaram muito com os meios de comunicação. O Museu, fazendo parte dessa comunicação, passou a ser um meio de apresentar as novas conquistas científicas com sentidos de visão, audição, olfato, tato e até paladar, em Salas de Descobertas (Discovery Rooms). Desta maneira, conseguimos chegar à Divulgação Científica, até às pessoas com necessidades especiais de aprendizado. Esta é nossa função e missão.

Fitoterápicos na atenção básica do Sistema Único de Saúde

Dra. Nilsa Sumie Yamashita Wadt
Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP)

A fitoterapia é uma das formas mais antigas de prevenção e cura de doenças em toda a humanidade. No Brasil, ela é classificada como uma prática integrativa e complementar do Sistema Único de Saúde (SUS), visando fortalecer a atenção básica. Nesta palestra será discutida a consolidação da fitoterapia como prática de saúde e suas contribuições na participação comunitária e no desenvolvimento social. Serão apresentadas experiências exitosas de Projetos no modelo Farmácia Viva, que vai desde o cultivo até a manipulação e a dispensação de preparações fitoterápicas com qualidade e segurança, considerando espécies e produtos adequados a cada realidade local.

Cannabis medicinal no Brasil

Profa. Margarete Akemi Kishi
Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP)

Cannabis medicinal é hoje um dos temas mais comentados no setor farmacêutico. Número crescente de pesquisas envolvendo o uso terapêutico da Cannabis e seus derivados revelam resultados promissores no tratamento de diversas patologias. Nesta palestra, pretende-se mostrar as evidências científicas do uso medicinal da Cannabis, afastando-se visões discriminatórias frequentemente relacionadas ao uso recreativo dessa planta. Além disso, serão discutidos os aspectos legais e a situação sanitária de produtos de Cannabis para fins medicinais no Brasil, reforçando-se a importância dos avanços nas pesquisas clínicas, nas normas regulamentadoras e na capacitação dos profissionais de saúde neste tema.

Doenças Infecciosas em São Paulo Do Conceito Miasmático ao Bacteriano

Marcos Vinicius da Silva
Professor Associado da Faculdade de Medicina da PUC-SP

Ambulatório de Doenças Tropicais e Zoonoses e Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emilio Ribas

A Cidade de São Paulo foi fundada no Planalto de Piratininga, no dia 25 de janeiro de 1554, por um grupo de jesuítas, tendo entre eles o padre José de Anchieta. A origem do nome se deu porque nessa data se comemora a conversão do apóstolo Paulo. A topografia do local é uma alta colina margeada por dois vales onde correm os rios Tamanduateí e Anhangabaú. As terras férteis começaram a atrair colonos portugueses e servir de moradia ou de repouso dos bandeirantes que seguiam para o interior do Brasil. O Rio Tietê, com as entradas e bandeiras, passou a ser o caminho natural para a interiorização da colonização.

Em 1711, quase duzentos anos depois da fundação, a vila transformou-se em cidade. Com o início do ciclo do café, em meados do século XIX, São Paulo começou a despontar para se transformar, um século depois, na maior e mais influente cidade da América do Sul. Nesse tempo, aconteceu o primeiro grande crescimento da cidade. Logo depois, com o fim da escravidão negra, também em fins do século XIX, a cidade passou a receber os primeiros imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras do café. Em 1895, a cidade já tinha 130 mil habitantes.

O crescimento desordenado da cidade, as condições sanitárias precárias, a escassa assistência médica e de saúde pública, e a falta do conhecimento científico, favoreceram o aparecimento das grandes epidemias das doenças infecciosas, como a de varíola e a de Febre Tifóide. As poucas ações de Saúde Pública adotadas em relação às doenças infecciosas, naquela época, eram fundamentadas no Conceito Miasmático. Com os novos conhecimentos científicos trazidos por Pasteur, com a descoberta dos microrganismos, Conceito Bacteriano, começou a estruturação Sanitária e de Saúde Pública na Cidade de São Paulo. Como resultados dessas ações foram criados o Hospital de Isolamento de São Paulo (Instituto de Infectologia Emilio Ribas), o Instituto Bacteriológico (Instituto Adolfo Lutz), o Instituto Serumtherápico (Instituto Butantan), o Desinfectório Central (Museu de Saúde Pública Emilio Ribas) e a Hospedaria de Imigrantes (Museu da Imigração). Assim começa a se escrever a História Sanitária de São Paulo e do Brasil.